Aumento da carga de importação altera hábitos de consumo e favorece o mercado interno
Uma nova pesquisa revela que a taxa de desistência em compras on-line em sites internacionais passou de 13% em maio de 2024 para 38% em outubro de 2025. O aumento coincide com a implementação da chamada “Taxa das Blusinhas” — imposto de 20% sobre importações de até US$ 50 — que elevou o custo dos produtos importados de baixo valor e alterou a dinâmica do comércio eletrônico internacional.
Principais achados
- A incidência do imposto levou 32% dos consumidores, em outubro de 2025, a buscar produtos similares com entrega nacional, frente a 22% no mês comparado.
- Outros fatores também influenciaram a desistência: o imposto estadual de ICMS aparece como motivo para abandono de 36% dos pedidos internacionais, e o frete caro ou demora na entrega levaram 45% dos consumidores a desistir da compra.
- Os perfis mais impactados são os consumidores com ensino superior (51%), os jovens entre 16 e 40 anos (46%) e os que recebem mais de cinco salários-mínimos mensais (45%).
- No Nordeste, a taxa de desistência alcançou 42%, sendo nesta região o maior índice entre as unidades federativas.
Efeitos sobre o varejo internacional e o mercado nacional
O aumento da desistência reflete dois processos simultâneos: por um lado, o consumidor percebe mais claramente o custo total da importação — imposto + frete + prazo — e, por outro, há migração parcial da demanda para o varejo nacional. A participação de consumidores que optaram por produtos similares com entrega doméstica subiu para 32%.
Para o comércio nacional, esse fenômeno representa oportunidade de capturar parte da demanda que antes recorria a fornecedores internacionais com preços mais baixos. Já para plataformas de e-commerce internacional, a elevação da carga tributária simboliza risco de retração de mercado entre os consumidores brasileiros.
Principais desafios
- Empresas que operam com importações de insumos ou revendas precisam revisar margem e estrutura de custo, pois o aumento de desistência pode sinalizar retração de volume ou necessidade de ajustes de preço.
- Consumidores de menor renda e regiões mais distantes enfrentam maior impacto, visto que o custo adicional da taxa e do frete reduz ainda mais o acesso a bens importados, o que pode acentuar disparidades de consumo.
- O varejo nacional, se pretende capturar essa demanda, precisa ajustar logística, preço e oferta para aproveitar o deslocamento de parte do mercado internacional para o interno.
Recomendações para empresas
- Mapear os efeitos da taxação nas cadeias de importações e avaliar se haverá impacto direto nos volumes ou na composição de clientes.
- Avaliar oferta de produtos nacionais similares e ajustar posicionamento de preço, qualidade e prazo para capturar consumidores que desistiram da importação.
- Monitorar dados de desistência e comportamento do consumidor para antecipar tendências e adaptar mix de produtos, canais e estratégias de marketing.
- Verificar se os custos adicionais provocados pela taxação e logística devem ser repassados ao cliente ou absorvidos para manter competitividade.
A elevação da desistência nas compras internacionais mostra que a tributação agregada — especialmente para importações de baixo valor — vai além da arrecadação: está modificando o comportamento de consumo e favorecendo o mercado interno. Para empresas, o desafio é interpretar essa mudança como alavanca estratégica e não mero efeito regulatório.